terça-feira, 17 de abril de 2012

A Suíça é o único pais do mundo com abrigos nucleares

Bunkers para todos
Uma imagem familiar para qualquer suíço: a entrada de um abrigo nuclear
Uma imagem familiar para qualquer suíço: a entrada de um abrigo nuclear (RDB)


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A Suíça é o único pais do mundo com abrigos nucleares, capazes de acomodar toda sua população, caso um dia isso seja necessário.

"Mas porque seria necessário uma porta blindada na entrada da adega de seu apartamento?" Dá para compreender o espanto do amigo italiano ao visitar o edifício. Ele nunca havia entrado em local semelhante.

Adega? Bem, o espaço está meio cheio de garrafas de vinho, livros velhos, um freezer e roupas usadas ... mas, isto não é uma adega. Nosso amigo simplesmente se viu, pela primeira vez, diante do que é nosso abrigo atómico.

Com uma grossa porta blindada, um sistema próprio de ventilação e filtro contra gases, os cerca de 25 condóminos de nosso prédio sobreviveriam, mesmo que acontecesse algo terrível como uma explosão nuclear.

Esses suíços! Paranóicos e obcecados por segurança! - é o que nosso amigo deve ter pensado. E provavelmente há um fundo de verdade nessa sua maneira de pensar. Basta dizer que o suíço gasta mais do que qualquer outra nação no mundo (mais de 20% de seu orçamento) para se garantir contra tudo e contra todos. Além disso, há outra razão bem mais simples: trata-se de uma exigência legal.

Espaço para toda a população

"Da mesma forma que cada cidadão deve ter um abrigo, que, de sua residência, possa ser alcançado rapidamente", os "proprietários de apartamentos são obrigados a construir refúgios em todos os novos edifícios", de acordo com os arts. 45 e 46, da Lei Federal Suíça sobre Protecção Civil.

Esta é a razão pela qual a maioria dos edifícios construídos a partir da década de 60 (a primeira lei sobre o assunto foi aprovada em 4 de Outubro de 1963) já possui abrigo atómico. Em 2006, havia 300 mil abrigos em residências, instituições e hospitais, bem como 5.100 abrigos públicos, proporcionando protecção para um total de 8.6 milhões de cidadãos – um grau de cobertura de 114%.

Campeões Mundiais

Se construir abrigos atómicos fosse uma prova olímpica, a Suíça, com certeza, ganharia medalha de ouro. Basta dar uma rápida olhada, mundo a fora, para se ter certeza de que ninguém rivaliza com ela nesse aspecto.

Os mais próximos competidores são a Suécia e a Finlândia. Mas, com 7,2 e 3,4 milhões de lugares protegidos respectivamente (representando uma cobertura de aproximadamente 81% e 70%, respectivamente), conseguiriam no máximo uma medalha de prata.

A situação nos outros países europeus não chega aos pés da Suíça. Na Áustria, por exemplo, a cobertura é de 30 por cento, mas a maioria dos abrigos não têm um sistema de ventilação. Na Alemanha, o nível nacional de cobertura não passa de três por cento.

Em áreas fora da Europa, abrigos são comuns na China, Coreia do Sul, Singapura, Índia... e alguns outros países. Mas em índices de cobertura não ultrapassam os 50 por cento.

Em Israel, existem abrigos para dois terços da população, porém, em muitos casos, estas estruturas são simplesmente protecções em concreto com aberturas. Portanto, sujeitas a chuva radioactiva.

Idade de ouro

A construção sistemática de abrigos atómicos na Suíça, durante a segunda metade da década de 60, foi provocada pelo receio generalizado de um ataque nuclear e pelo fantasma de uma invasão soviética. "A neutralidade não dá garantias contra a radioactividade", era um dos slogans da campanha na época.

A construção de abrigos atingiu seu pico em meados da década de 70, com uma média anual entre 300 mil e 400 mil lugares protegidos. Actualmente, esse volume gira em torno dos 50.000 anuais.

Durante alguns anos, a Suíça ostentou, orgulhosamente, a marca de possuir o maior projecto da protecção civil em todo o mundo: No túnel de Sonnenberg, em Lucerna, era possível abrigar até 20.000 pessoas.

Nos sete níveis acima do túnel, inaugurado em 1976, havia um hospital, um teatro operacional, um estúdio de radio, um centro de comando ... Entretanto, essa infra-estrutura, abandonada em 2006, era deficiente sob vários aspectos. As portas, por exemplo, tinham 1,5 metros de espessura e pesavam 350 mil quilos, mas não fechavam hermeticamente.

E os construtores não levaram em conta um outro dado muito simples: os grandes problemas psicológicos e de logística, diante de uma enorme concentração de pessoas.

Políticas inalteradas

Com o fim da Guerra Fria e uma nova situação, na política de segurança, muitos países introduziram mudanças radicais na sua filosofia de protecção. Por exemplo, na Noruega, em 1998, as autoridades revogaram legislação relativa à construção de abrigos atómicos.

Mas, na Suíça, não houve mudanças. Em 2005, um parlamentar (Pierre Kohler) apresentou projecto suspendendo a obrigatoriedade de construir abrigos em residências particulares. Ele salientou a inutilidade dessas "relíquias do passado", as quais, certamente, aumentariam os custos de construção de residências.

No entanto, após análise da situação, o governo concluiu que eles ainda eram úteis, não só em caso de conflito armado, mas também no enfrentamento de um possível ataque terrorista com "armas perigosas", acidentes químicos e as catástrofes naturais. Portanto, os abrigos atómicos continuarão a ter um futuro brilhante na Suíça.

Daniele Mariani, swissinfo.ch
traduzido do italiano por J.Gabriel Barbosa

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